O crime desorganizado

sábado, 25 de outubro de 2008

Quando faltam recursos para a educação do jovem, quando lhes são tiradas quaisquer perspectivas de uma vida digna e honrada, estimula-se o crime desorganizado. Já vivemos tempos em que ansiávamos para a futura geração uma vida melhor que a nossa. Hoje, a única certeza que podemos dar a nossos filhos é que jamais terão o mesmo padrão de vida que temos. Os de classe média caem cada vez mais de padrão existencial e os pobres são arremessados nas mãos dos criminosos desorganizados.

Faço esta pequenina diferenciação pois os traficantes, seqüestradores e similares não têm a Lei ou o Parlamento a seu lado – são levados à mesma condição de egoísmo e desilusão que perpassa todo o mundo capitalista – ao contrário do crime organizado dos bancos, do Planalto, do BACEN, do Parlamento e do Judiciário. O exemplo vem de cima e eles tentam desesperadamente segui-lo, mas jamais disporão dos mesmos recursos que os verdadeiros donos do poder jogam ao ralo da corrupção e compra de legisladores, economistas e juristas no cotidiano.

Os recursos que deveriam destinar-se à educação são desviados da maneira acima descrita; a isto se adiciona mais uma das atribuições da facção do BACEN: a manutenção de elevados níveis de desemprego. Isto protege os poderosos de greves, avilta salários e amplia seus lucros. O fato de o ser humano ser a maior vítima de toda esta situação sequer é considerado relevante pelos donos do poder. Aqui encontramos nova discrepância entre a realidade e o discurso. Fala-se em menos de 15% de desempregados no país. Todo o discurso oficial se encaminha nesta direção. Contudo, as pesquisas em que se baseiam o discurso oficial, não levam em conta pessoas que estão desempregadas há mais de 1 mês, pessoas que procuram emprego pela primeira vez, pessoas que recentemente demitidas, por um lado e, por outro, computam aqueles que conseguem sobreviver trabalhando na chamada “economia informal”, ou seja, que não pagam impostos e acabam sendo penalizadas por isso.

Pesquisas sérias que levassem tais dados em consideração concluiriam que temos um “exército industrial de reserva” superior a 30% da mão-de-obra ativa. 30% de desemprego é sinônimo de desespero.

Meninos mal formados – inclusive por insuficiência alimentar na primeira infância – sem acesso à educação formal são vítimas óbvias do crime desorganizado que busca imitar o maior e mais grave, o exemplo que vem de cima.

Hoje a rebeldia juvenil sequer se manifesta politicamente. Por um lado há a propaganda hipnótica a desinformar que “os trabalhadores estão no poder”; por outro os sindicatos se transformaram em míseros apêndices do governo que, mal e porcamente organizam festas laudatórias ao marionete dos banqueiros em cerimônias vazias de conteúdo. Naturalmente, todos os sindicatos e mesmo os partidos políticos que já estiveram à esquerda seguem se dizendo “defensores dos trabalhadores” – se por “trabalhadores” compreendermos donos de bancos e jogadores da bolsa de valores...

Cabe, novamente, enfatizar: aos donos do poder, pouco importa o discurso, desde que sua lucratividade esteja garantida.

Neste sentido, vale a regra oposta àquela subseqüente ao mar de lama do primeiro mandato de Lula da Silva. Se naquele momento tudo de ilícito era permitido fazer e nada era permitido divulgar; no caso do controle bancário a regra é oposta: tudo se pode dizer ou escrever, desde que nada se faça a respeito. Até mesmo autoridades políticas governamentais, seja no Parlamento ou mesmo dentro da facção do Planalto podem dizer o que bem entenderem acerca do encaminhamento político. A proibição definitiva é uma só: não se pode mudar a política econômica ditada pelo crime organizado.

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