NO TEMPO DOS BANDEIRANTES

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008


Vila de Piratininga (desenho do autor)


Muito antes de surgirem os primeiros aldeamentos na bacia do Prata, os paulistas já percorriam o sertão, buscando na preação do indígena o meio para sua subsistência. Essa "vocação interiorana" era alimentada por uma série de condições geográficas, econômicas e sociais. São Paulo separada do litoral pela muralha da serra do Mar, voltava-se para o sertão, cuja penetração era facilitada pela presença do rio Tietê e de seus afluentes que comunicavam os paulistas com o distante interior. Além disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua população crescera muito por boa parte dos habitantes de São Vicente terem migrado para lá quando os canaviais plantados no litoral por Martim Afonso de Sousa entraram em decadência, já na segunda metade do século XVI, arruinando muitos fazendeiros. As reduções organizadas pelos jesuítas no interior do continente foram, para os paulistas, a solução para os seus problemas: reuniam milhares de índios adestrados na agricultura e nos trabalhos manuais, bem mais valiosos que os ferozes tapuias, de "língua travada". No século XVII, o controle holandês sobre os mercados africanos, no período da ocupação do Nordeste, interrompeu o tráfico negreiro. Os colonos voltaram-se então para a escravização do indígena para os trabalhos antes realizados pelos africanos. Esta procura provocou uma elevação nos preços do escravo índio, considerado como "negro da terra", e que custava, em média, cinco vezes menos que os escravos africanos. Os paulistas não teriam atacado as missões por anos seguidos se não contassem com o apoio, ostensivo ou velado, das autoridades coloniais. Embora não se saiba ao certo quais as expedições promovidas pela Coroa e quais as de iniciativa particular, sendo igualmente imprecisa a designação de entradas e bandeiras, o traço comum a todas elas foi à presença, direta ou indireta, do poder público. Muitas vezes era o governo que financiava a expedição; outras se limitava a fechar os olhos para a escravização dos índios (ilegal desde 1595), aceitando o pretexto da "guerra justa". Patrocinadas por D. Francisco foram às bandeiras de André de Leão (1601) e Nicolau Barreto (1602). A segunda estendeu-se por dois anos. Teria chegado à região do Guairá, regressando com um número considerável de índios, que algumas fontes estimam em 3000. Em agosto de 1628, quase todos os homens adultos da Vila de São Paulo estão armados para investir contra o sertão. Eram novecentos brancos e 3 mil índios, formando a maior bandeira que ate então se organizara. O destino era Guaíra, para expulsar os jesuítas espanhóis e prender quantos índios pudessem, para despeja-los na Bahia, carente de braços para o trabalho. A bandeira caminha dividida em quatro seções, sob o comando de Antonio Raposo Tavares, Pedro Vaz de Barros, Brás Leme e André Fernandes. São semanas e semanas de mata virgem, de travessia de grandes rios, do peso das muitas correntes. A vanguarda, uma pequena coluna chefiada por Antonio Pedroso de Barros, livre de quase todo equipamento, seguia mais depressa. Há oito de setembro cruza o rio Tibagi, bem em frente à missão de Encarnación. Ali, Pedroso de Barros manda erguer uma cerca de estacas e fica à espera. Durante mais de três meses, a vanguarda permaneceu frente a frente com os inimigos, aguardando a vinda da bandeira. Somente em dezembro, toda a tropa reunia-se novamente. Agora, tudo está pronto para a guerra. Falta apenas um pretexto, um motivo de guerra, para justificar o ataque. A fuga de uns poucos índios - aprisionados no local - que procuram abrigo na missão próxima de San Antônio dá aos paulistas o motivo de que precisam. Imediatamente, a bandeira desloca-se para essa missão e Raposo Tavares lança um ultimato: ou os jesuítas espanhóis entregam os índios, ou... Os padres não cedem, os presos não são devolvidos a Raposo e os bandeirantes. A luta começa. O céu escurece com as nuvens de flechas. À medida que o cerco aperta, tiros, facas, paus e a forca bruta fazem mortos dos dois lados. Os jesuítas, roupas manchadas de lama e sangue, congregam os índios numa tentativa desesperada de salvar a missão. Os sinos da igreja repicam sem parar. Alguns padres batizam às pressas os últimos pagãos. Os paulistas, duros como a terra em que caem, gritando e atirando, vencem os muros de pedra de San Antonio. A 30 de janeiro de 1629, o barulho cessa. San Antonio deixara de existir dizimada pelos paulistas. O Brasil crescera mais um pouco.E os dois mil índios sobreviventes, que se renderam em massa, vão ocupar as argolas de ferro nas correntes trazidas para eles.

1 comentários:

Cida disse...

ola roberto seu blog esta muito bom
e muiyo intereçante muito bem elaborado parabens
desculpe os erros mas e que estou começando agora no pc nao tenho
muita noçao de teclas mas prometo que vou melhorar
espero que tenha bastante sussesso
em seu blog e estarei atenta em suas novas postagens que deus te abençoe um forte abraço

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