Apogeu e Queda do Estado Novo

sábado, 24 de maio de 2008

Em sua mensagem à Constituinte de 1934, Getúlio abordou o tema da educação. Vargas iniciava sua exposição ressaltando o poder transformador da educação. Ele citava o exemplo do Japão que diante da necessidade de abrir sua economia para o mundo realizara uma verdadeira revolução através da educação.

Em 1871 o Japão criou o Ministério da Instrução. No decreto que criava o ensino obrigatório havia um imperativo: em nenhuma família haverá analfabetos. Com a Reforma Meiji , em 1868, os japoneses criaram oito universidades, 256 ginásios e elevaram o número escolas primárias em funcionamento para 53.160.

Além disso, nessa mesma época, o Japão importou cérebros do exterior para lecionar em suas universidades, bem como técnicos para auxiliar na implantação de fábricas de seda que empregavam tecnologias modernas. Ao mesmo tempo, o Governo japonês enviou estudantes ao exterior para realizarem cursos de graduação nos grandes centros de ensino superior e pesquisa ocidentais. (1)

O resultado do esforço japonês, segundo Getúlio, foi que entre 1877 e 1919, em pouco mais de 40 anos, o comércio exterior do Japão se multiplicou por cem e o país ingressou "no rol das grandes potências”.(2)

Na mensagem Getúlio criticava a visão daqueles que atribuíam à riqueza dos países desenvolvidos os elevados investimentos em educação. Para ele era exatamente o contrário: a educação era uma das condições para o desenvolvimento econômico.(3)

Segundo dados do Ministério da Educação, citados por Getúlio, o Brasil dispunha em 1931 de 20.918 escolas públicas e 7.632 escolas particulares, com um total de 54.337 professores e 2.020.931 alunos matriculados.

Esse número expressava uma pequena fração da população infantil em idade escolar. Apenas 3% das crianças completavam o ensino primário.

No decreto que instituiu o chamado Código dos Interventores, que regulava os poderes dos interventores nos Estados, o Governo Provisório estabeleceu a obrigatoriedade dos Estados gastarem pelo menos 10% de suas receitas com educação.

O Governo Provisório criou o Ministério da Educação e Saúde que no segundo período de governo de Getúlio viria a ser desmembrado. Sua criação e a vinculação de recursos dos orçamentos estaduais foram duas das primeiras medidas tomadas por Getúlio no sentido de aumentar os investimentos públicos em educação.

Na Constituição de 1934, a vinculação de recursos para a educação foi ampliada: o artigo 156 determinava que a União e os Municípios aplicariam pelo menos dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento do total de suas receitas na manutenção e no desenvolvimento do sistema educacional.

A Constituição determinava ainda que a União reservasse pelo menos vinte por cento do orçamento de educação para financiar a educação nas zonas rurais.

Como conseqüência desse conjunto de medidas, em 1940 as matrículas no ensino primário haviam se elevado em cerca de 50%, atingindo cerca de três milhões de crianças matriculadas. No ensino secundário o crescimento de vagas também se fez sentir: no início dos anos trinta, apenas cerca de cem mil alunos estavam matriculados no curso secundário, contra cerca de 260 mil estudantes em 1940.(4)

O Governo Federal realizou também esforços no sentido de formar técnicos especializados para o setor industrial, que, nesse momento, crescia aceleradamente. Com esse objetivo foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - Senai.

Outra iniciativa do Governo Federal foi a reforma do ensino secundário, realizada pelo Ministro da Educação, Gustavo Capanema. Em 9 de abril de 1942 foi publicada a Lei Orgânica do Ensino Secundário. De acordo com a nova lei, o ensino secundário era dividido em dois ciclos: o primeiro de quatro anos, denominado curso ginasial e o segundo ciclo de três anos.

O segundo ciclo era dividido nos cursos científico e clássico, ambos preparatórios para a universidade. O curso científico concentrava suas atenções nas ciências exatas e da natureza, preparando alunos para cursos como o de medicina e engenharia, enquanto o clássico se concentrava nas humanidades, preparando para cursos como o de direito, letras e outros.

No campo do ensino superior, em 5 de julho de 1937 foi criada a Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. A iniciativa do Governo Federal reunia as escolas isoladas já existentes no Rio de Janeiro.

A obra de Getúlio no campo da educação durante seu primeiro período de governo apresenta um saldo positivo, não obstante não tenha alcançado a mesma dimensão de suas iniciativas no campo da legislação trabalhista ou dos investimentos em infra-estrutura e na produção industrial, cujas expressões maiores são a criação da Usina de Volta Redonda, da Petrobrás e da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso.

A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO
Desde o início do Governo constitucional de Vargas, em 1934, até o final do Estado Novo, o Ministro da Educação foi Gustavo Capanema. Ele se cercou de intelectuais como o poeta Carlos Drummond de Andrade que trabalhou com ele no Ministério da Educação. Artistas como Mário de Andrade participaram da elaboração de uma série de iniciativas no campo da cultura que foram levadas à prática pelo Ministério ao tempo de Capanema.

As criações do Instituto Nacionais do Livro e do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional datam desse período.

O Instituto Nacional do Livro foi criado em dezembro de 1937 e promoveu o aumento do número de bibliotecas públicas existentes no país. Posteriormente o Instituto tornou-se responsável pela aquisição de milhões de livros por ano para distribuição gratuita para os alunos da rede pública.

O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por sua vez, foi criado em 30 de novembro de 1937, segundo projeto elaborado por Mário de Andrade. O SPHAN contribuiu para a restauração e preservação da arquitetura e da arte barrocas no Brasil, entre outras atividades, perseguindo a idéia da construção de uma identidade brasileira.

O interesse de Getúlio pela educação e pela cultura revelou-se também no projeto e construção da sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro.

Hoje conhecido como Palácio Gustavo Capanema, o edifício teve sua construção iniciada em maio de 1937 e foi projetado por uma equipe de arquitetos formada, entre outros, por Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy e Lúcio Costa.

Niemeyer solicitou a Capanema e a Getúlio a vinda do famoso arquiteto Le Corbusier ao Rio, para auxiliar o grupo a incorporar no projeto os conceitos mais avançados da arquitetura da época. Le Coubisier veio e permaneceu cerca de um mês com o grupo de jovens arquitetos brasileiros, defendendo algumas idéias básicas para o conjunto: que fosse construído sobre pilotis, com aberturas horizontais, plantas livres com grandes espaços e teto transformado em jardim.

Esses conceitos foram incorporados e o prédio de 14 andares foi edificado sobre pilotis de 10 metros de altura.

O prédio conta ainda com obras de Portinari, como o painel Jogos Infantis, além de obras de Guinard, Pancetti, Bruno Giorgi, e paisagismo de Burle Marx. O prédio foi construído durante o Estado Novo e inaugurado por Getúlio em 1945, tornando-se um marco da arquitetura moderna no Brasil.

Esse mesmo grupo, formado por Niemayer, Lúcio Costa, Portinari, Burle Marx, Bruno Giorgi, entre outros, voltou a trabalhar junto no projeto do conjunto da Pampulha em Belo Horizonte, criado ao tempo em que Juscelino Kubitschek era Prefeito de Belo Horizonte, bem como, posteriormente, no projeto de Brasília.

O DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA
O Estado Novo não recorreu ao partido único nem à mobilização de massas, instrumentos típicos dos regimes totalitários da Alemanha e da Itália. Mas ele desenvolveu uma intensa atividade de propaganda, buscando conquistar a simpatia popular para o novo regime.

Com o propósito de coordenar as atividades de propaganda do regime e exercer a censura à imprensa e às artes, foi criado em dezembro de 1939 o Departamento de Imprensa e Propaganda, conhecido como DIP.

O Departamento de Imprensa e Propaganda procurava cultivar a imagem de Getúlio como um líder esclarecido e comprometido com o bem estar da população e com a independência do Brasil. O titular do DIP foi Lourival Fontes que, no segundo governo de Vargas foi chefe da Casa Civil da Presidência da República.

O DIP produzia o programa de rádio "A Hora do Brasil", veiculado pela Rádio Nacional. Produzia também o Cine-jornal Brasileiro, cuja exibição era obrigatória em todos os cinemas do país, antes das sessões.

A Rádio Nacional passou ao controle do Estado em 1940 e contava com recursos orçamentários para manter um elenco de famosos cantores e atores de rádio. A Rádio buscava atrair o máximo de audiência, realizando programas de entretenimento que se situavam entre os melhores da época.

O Departamento de Imprensa e Propaganda foi uma peça fundamental da política cultural do Estado Novo e da associação da imagem de Getúlio aos interesses nacionais e populares.

O DIP foi extinto em maio de 1945, quando o Estado Novo agonizava.

A QUEDA DO ESTADO NOVO
Apesar de suas realizações no plano econômico, bem como de iniciativas em favor dos trabalhadores, como o salário mínimo, o regime do Estado Novo estava em contradição com os ventos que sopravam no mundo desde a primeira grande derrota da Alemanha na frente soviética.

Em setembro de 1942 mais de trezentos e trinta mil soldados alemães atacaram a região oriental da Ucrânia e irromperam na cidade de Stalingrado. Contudo, as trinta e seis divisões alemãs envolvidas na batalha enfrentaram uma resistência heróica dos soviéticos e cerca de cinco meses depois, em fevereiro de 1943, as tropas alemãs tinham sido derrotadas pelo Exército Vermelho. Cerca de noventa mil soldados alemães se renderam ou foram aprisionados.

A derrota em Stalingrado reduziu a pó o mito da invencibilidade militar alemã e deixou claro para os povos de todo o mundo que os regimes totalitários da Alemanha e da Itália poderiam perder a guerra.

Os ecos da batalha de Stalingrado atravessaram os oceanos e alcançaram a América do Sul. O Brasil havia apoiado os EUA e enviado soldados para lutar contra o Exército alemão e contra os regimes nazi-fascistas da Europa. Mas isso não obscurecia o fato de que o Estado Novo era um regime de exceção, que no Brasil havia presos políticos, censura à imprensa e às artes, que o Congresso estava fechado e que os partidos políticos tinham sido dissolvidos.

Assim, a cada avanço das forças aliadas contra a Alemanha mais faltava chão ao regime do Estado Novo.

Uma das primeiras manifestações que apontava essa contradição entre a participação do Brasil na guerra contra o Eixo e a existência de um regime de força no país foi o Manifesto dos mineiros, de 24 de outubro de 1943. O documento, assinado por personalidades da elite mineira como Virgílio de Melo Franco, o ex-presidente Artur Bernardes, Odilon Braga e Afonso Arinos, expunha claramente esse argumento:

"Se lutamos contra o fascismo, ao lado das Nações Unidas, para que a liberdade e a democracia sejam restituídas a todos os povos certamente não pedimos demais reclamando para nós mesmos os direitos e as garantias que as caracterizam". (5) O documento foi divulgado de forma restrita, uma vez que o DIP o censurou e ele não pode ser publicado pelos jornais diários.

Em dezembro de 1943 estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo saíram às ruas com lenços na boca que simbolizavam a falta de liberdade de expressão. A passeata foi reprimida com violência, deixando um saldo de dois mortos e cerca de vinte feridos.

Alguns meses mais tarde, o Ministro das Relações Exteriores Osvaldo Aranha, que havia liderado a corrente do Ministério favorável a aliança do Brasil com os Estados Unidos contra o Eixo, tornou-se protagonista de outro episódio da agonia do Estado Novo. Em agosto de 1944, ele foi reeleito vice-presidente da Sociedade dos Amigos da América, entidade que, como o próprio nome revelava, pregava a união das Américas contra inimigos de além mar e reunia políticos da oposição ao regime. Na sua posse, Aranha receberia uma homenagem da entidade.

Às vésperas da cerimônia, o Chefe de Polícia Coriolano de Góis mandou fechar a entidade. A diretoria da entidade transferiu o evento para a sede social do Automóvel Clube do Brasil. No entanto, para o constrangimento de Aranha, o chefe de polícia mandou esvaziar a sede do Automóvel Clube para impedir a realização da cerimônia. Em protesto, Aranha demitiu-se do Ministério e rompeu com Getúlio.

Em 22 de fevereiro de 1945, uma entrevista concedida por José Américo de Almeida ao jornal O Correio da Manhã, rompia a censura à imprensa. Na entrevista, ele retomava o argumento da contradição entre a vitória aliada e o regime de exceção no Brasil: "evidentemente o Brasil tem de receber os reflexos da guerra, do caráter ideológico da guerra, que é uma luta pela sobrevivência e purificação da democracia”.(6)

Além de muitas críticas ao Estado Novo, José Américo revelava que as forças de oposição ao regime já tinham candidato à sucessão de Getúlio. No dia seguinte o jornal O Globo publicava o nome do candidato: era o Brigadeiro Eduardo Gomes.

Mas apenas seis dias depois da entrevista de José Américo, Getúlio retomava a iniciativa política, publicando o Ato Adicional à Carta de 1937, pelo qual fixava um prazo de noventa dias para que fossem marcadas as eleições gerais. De fato, três meses mais tarde era publicado o Código Eleitoral, fixando a data das eleições presidenciais e para o Congresso em 2 de dezembro de 1945.

Em abril o Brasil estabelecia relações diplomáticas com a União Soviética.

A ANISTIA
Em 2 de março de 1945, durante a primeira entrevista coletiva à imprensa concedida por Getúlio desde a implantação do Estado Novo, alguns jornalistas fizeram perguntas sobre a anistia política. Getúlio afirmou ser simpático à idéia, mas remeteu o assunto para o Congresso que seria eleito em 2 de dezembro. A declaração de Getúlio facilitou o surgimento de manifestações públicas em favor da anistia, uma vez que o próprio presidente reconhecia a legitimidade da idéia.

A partir desse momento, os fatos se precipitaram. Em 14 de março, o Chefe de Polícia, João Alberto, militar que havia participado da Coluna sob o comando de Prestes, concede uma entrevista onde falava do líder comunista em termos respeitosos. Respondendo a uma pergunta sobre a anistia ele afirmava: "só compreendo uma anistia geral" (7)

Em 6 de abril começava a "Semana Pró-Anistia" organizada pela União Nacional dos Estudantes - UNE. Foram realizados comícios, conferências e debates. O evento teve ampla cobertura da imprensa.

Cinco dias mais tarde, em 11 de abril, o Supremo Tribunal Federal decidia que os exilados políticos poderiam voltar ao país.

Diante do rápido crescimento do movimento de opinião pública em favor da anistia Getúlio decidiu se antecipar e em 18 de abril publicava o Decreto 7474, concedendo anistia aos presos e exilados políticos.

O Decreto continha a restrição de que a volta dos militares e funcionários públicos anistiados às suas carreiras dependeria do exame caso a caso por comissões a serem criadas pelo governo com esse fim. Dessa forma, Getúlio pretendia controlar os efeitos políticos da anistia sobre as Forças Armadas e evitar situações de confronto entre as instituições militares e os anistiados.

Libertado depois de quase dez anos na prisão, Luis Carlos Prestes participou em maio de 1945 de um grande comício organizado pelo Partido Comunista do Brasil, no Estádio do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele qualificou a anistia como sendo "uma conquista dos nossos marinheiros aviadores e soldados da Força Expedicionária". E disse: "Foi lutando na Itália contra o inimigo nazista que melhor ajudaram o nosso povo na luta pela democracia".

Logo em seguida Prestes surpreendia a todos os presentes ao afirmar que "a anistia foi obra também do nosso Governo, desse mesmo Governo que, dando volta atrás nas suas tendências inaceitáveis para o povo (...) preferiu ficar com o povo, cortar relações com o Eixo, declarar-lhe guerra, estabelecer relações com o Governo Soviético e finalmente abrir as prisões e revogar na prática as restrições à democracia (...)". (8)

Em outro comício, em 17 de julho de 1945, desta vez no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, Prestes tornava clara sua posição favorável a realização de uma Assembléia Nacional Constituinte com Getúlio:

"O governo vem há muito cedendo no sentido da democracia e marcha por isso em sentido inverso daquele porque levava o país nos anteriores à grande guerra pela independência e libertação dos povos. Se naquela época soubemos empunhar armas em defesa da democracia, agora também a defenderemos apoiando o Governo em defesa da ordem e desmascarando sem vacilações os agentes da desordem todos aqueles que pregam os golpes salvadores ou a guerra civil falando em democracia, mas que não passam na verdade de instrumento da provocação fascista”.(9)

O MOVIMENTO QUEREMISTA
O processo político se desenvolvia aceleradamente, com as eleições marcadas e as candidaturas de Eduardo Gomes e Dutra nas ruas. Nesse momento surgiu um movimento formado por seguidores de Getúlio e cuja proposta se resumia à permanência de Getúlio no poder. O movimento ficou conhecido como "queremista": aqueles que querem a permanência de Getúlio.

O "queremismo" provocou uma forte sensação nos meios políticos de que Vargas manobrava para permanecer no poder.

Em 30 de agosto realizou-se um comício do movimento seguido de uma marcha ao Palácio do Catete. Getúlio recebeu os manifestantes e fez um pronunciamento no qual buscava ressaltar sua ligação com o movimento trabalhista:

"Eu fiz sempre a política do trabalhador, a política dos homens que trabalham e produzem nos campos e nas cidades, nas oficinas, nos escritórios, nas fábricas ou nas estradas de ferro, nos navios, no mar e na terra, nos guichês dos bancos e nos estabelecimentos onde trabalha o funcionalismo público. Em toda parte procurei atender às necessidades dos que trabalham. Não gostam de mim os gozadores e os sibaritas, aqueles que, vivendo na abundância, não querem pagar aos homens que trabalham uma justa remuneração de seus serviços. Não me querem os forjadores de trustes e monopólios que procuram desorganizar o orçamento do pobre, encarecendo a vida e provocando a elevação dos gêneros de primeira necessidade. Contra estes estarei sempre ao lado dos interesses do povo para cumprir a lei”.(10)

No mesmo pronunciamento ele procurava esconjurar o fantasma de um novo golpe que cancelasse as eleições gerais de 2 de dezembro:

"Nós marchamos para as eleições. Ninguém poderá detê-las. Portanto, é preciso que os cidadãos se alistem para votar”.(11)

OS PARTIDOS E AS CANDIDATURAS
A volta ao regime democrático trazia de volta à cena política os partidos políticos. Todos eles haviam sido extintos pelo Estado Novo. Formaram-se então três grandes partidos.

O Partido Social Democrático - PSD, nasceu por iniciativa dos interventores estaduais que, por sua vez, mobilizavam os chefes políticos locais que eram seus aliados. Os principais nomes que lideraram a criação do partido foram os interventores de Minas Gerais, Benedicto Valadares e do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto, genro de Getúlio.

Por iniciativa de Vargas, o PSD lançou a candidatura de Eurico Gaspar Dutra para a Presidência da República. Diante da candidatura de Eduardo Gomes, uma liderança militar, Getúlio foi compelido a lançar o nome de outra liderança militar. O nome escolhido foi o de seu Ministro da Guerra.

O PSD foi o grande vitorioso das eleições de 2 de dezembro, uma vez que elegeu o Presidente da República e a maior bancada na Assembléia Nacional Constituinte. Eram 151 deputados federais de um total de 286, além de 26 senadores em 42. O PSD deteve, portanto, 52% da Câmara dos Deputados e 61% do Senado da República.

A União Democrática Nacional - UDN, nasceu da reunião das forças de oposição ao Estado Novo, incluindo-se as lideranças paulistas, mineiras e gaúchas que tinham participado do movimento de 32, como o ex-presidente Artur Bernardes, lideranças regionais que tinham se oposto à implantação do Estado Novo, como Flores da Cunha e Juracy Magalhães, dissidentes, como Osvaldo Aranha, e lideranças socialistas que também haviam lutado contra o Estado Novo, como João Mangabeira, Hermes Lima e outros.

Os grupos de esquerda na UDN formaram a Esquerda Democrática, lançando candidatos na chapa da UDN e, posteriormente, criaram o Partido Socialista Brasileiro.

A UDN lançou a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes e elegeu 87 deputados e senadores de um total de 320 parlamentares que compunham a Assembléia Nacional Constituinte, tornando-se assim a segunda força do Parlamento, embora numericamente muito atrás do PSD. Não obstante, a UDN possuía grandes oradores graças aos quais sua influência superava a dimensão de sua bancada.

O Partido Trabalhista Brasileiro nasceu como conseqüência da ampliação dos direitos sociais de 1930 a 1945, e de sua transformação em leis e dispositivos constitucionais, o que levou a uma forte associação entre a figura de Getúlio Vargas e esses mesmos direitos. Um de seus principais organizadores foi o Ministro do Trabalho Alexandre Marcondes Filho.

O PTB disputou as eleições de 2 de dezembro de 1945 em 14 estados, elegendo uma bancada de 22 deputados federais e 2 senadores, tornando-se a terceira bancada da Assembléia Nacional Constituinte.

A QUEDA E O EXÍLIO EM SÃO BORJA
O fato de que Getúlio se aproximava de posições mais favoráveis aos trabalhadores bem como a sensação de que ele se pusera de acordo com os comunistas, levava a cúpula das Forças Armadas, tantas vezes por ele chamadas a combater os comunistas, a distanciar-se de Vargas, cuja permanência no poder elas tinham apoiado por tantos anos.

Em fins de 1945, Dutra havia deixado o Ministério da Guerra para se dedicar à campanha presidencial. Góis Monteiro tinha sido indicado para sucedê-lo. Góis via com apreensão a aproximação entre Getúlio e as forças de esquerda, bem como a mobilização política dos trabalhadores através do PTB.

Para ele, como para muitos oficiais conservadores, uma coisa era o Estado autoritário conceder algum tipo de proteção aos trabalhadores, de cima para baixo, como sucedera ao longo da década de trinta e no início dos anos 40. Outra coisa, muito diferente, era ver os trabalhadores organizados em um partido político, fazendo pressão por distribuição de renda e pela elevação da massa salarial, entre outros objetivos.

Pior ainda para esses oficiais, era ver Getúlio tacitamente aliado aos comunistas. É bom lembrar que boa parte dessa mesma oficialidade, que fora simpática aos regimes totalitários europeus, nutria um profundo ódio pelos comunistas, ódio que a aliança entre os Estados Unidos e a Inglaterra com a União Soviética não diminuíra.

Esse era o ambiente político quando, na manhã de 29 de outubro, João Alberto procurou o Ministro da Guerra para informá-lo que Getúlio havia nomeado seu irmão, Benjamin Vargas, para o estratégico cargo, na época, de Chefe de Polícia do Distrito Federal.

A reação de Góis Monteiro e da alta oficialidade foi imediata. A substituição tornava-se uma certeza, as suspeitas de que Vargas manobrava para permanecer no poder.

No mesmo dia Góis Monteiro reuniu a alta oficialidade sediada no Rio de Janeiro e enviou um ultimato a Getúlio, que foi obrigado a renunciar.

Na madrugada de 30 de outubro, o Presidente do Supremo Tribunal Federal José Linhares, assumia a Presidência da República.

Vargas talvez tivesse condições militares para reagir ao ultimato da cúpula das Forças Armadas, porque contava com a lealdade do Comandante da Vila Militar, no Rio de Janeiro, mas deu ordens expressas no sentido de que o General Renato Paquet não tomasse nenhuma medida para resistir ao golpe.

Na verdade, Getúlio, um político de grande visão, sabia que não havia condições políticas para uma resistência ao pronunciamento militar. As eleições estavam marcadas, os partidos estavam em campanha, sendo que os dois principais candidatos eram líderes militares e integrantes da cúpula de suas forças. Os regimes de força da Alemanha e Itália haviam sido derrotados e os Estados Unidos pressionavam pela realização de eleições, tendo o embaixador daquele país concedido uma entrevista na qual deixava clara a expectativa de seu governo de que o Brasil se redemocratizasse. Dessa forma, qualquer tentativa de Vargas de permanecer no poder levaria a uma guerra civil e ao derramamento de sangue.

Vargas voltou com a família para São Borja. Seu prestígio estava incólume e ele foi eleito senador e deputado por diversos estados, conforme permitia a legislação da época.

Getúlio foi ainda o grande eleitor de Dutra. Em 25 de novembro de 1945 ele divulgou um documento conclamando a população a votar em Dutra. Sua manifestação foi decisiva e Dutra foi eleito Presidente da República.

Fonte: www.getulio50.org.br

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