REVOLUÇÃO DE 32

sexta-feira, 2 de maio de 2008



Na primeira metade do século XX, o Estado de São Paulo vivenciou um acelerado processo de industrialização e enriquecimento devido aos lucros da lavoura de café e à articulação da política do café-com-leite, pela qual se alternavam na presidência da República políticos dos Estados de São Paulo e de Minas Gerais. Em meio à grave crise econômica devido à Grande Depressão de 1929, que derrubara os preços do café, eclodiu a Revolução de 1930, vindo Getúlio Vargas a assumir o poder, colocando fim à supremacia política das oligarquias paulistas. Getúlio nomeou interventores para o governo dos Estados, sendo que para São Paulo foi designado o coronel João Alberto de Barros, considerado pelas oligarquias como "forasteiro e plebeu". Em 1932 a irritação das oligarquias paulistas com Vargas não cedeu sequer com a nomeação de um paulista, Pedro Manuel de Toledo, como interventor do Estado e começou-se a tramar um movimento armado visando à derrubada de Vargas, sob a bandeira da proclamação de uma nova Constituição para o Brasil. O Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático de São Paulo, que antes apoiara a Revolução de 1930, uniram-se na Frente Única para exigir o fim da ditadura do "Governo Provisório" e uma nova Constituição.
O estopim da revolta foi a morte de cinco jovens no centro da cidade de São Paulo, assassinados por partidários governistas em 23 de maio de 1932, dando origem a um movimento de oposição que ficou conhecido como MMDC.
Esse fato levou à união de diversos setores da sociedade paulista em torno do movimento de constitucionalização. Neste movimento, tanto se uniu a oligarquia que pretendia a volta da supremacia paulista no poder quanto segmentos que desejavam a implantação de uma verdadeira democracia no Brasil.
Em Nove de julho eclodiu o movimento revolucionário, com os paulistas acreditando possuir o apoio de outros Estados, notadamente Minas Gerais, Rio Grande do Sul e do sul de Mato Grosso, para a derrubada de Getúlio Vargas. No Estado, contou com um grande contingente de voluntários civis e militares e o apoio de políticos de outros Estados, como Borges de Medeiros, Artur Bernardes e João Neves da Fontoura.
O movimento estendeu-se até Dois de outubro de 1932, quando foi derrotado militarmente. Observe-se que, em Nove de julho, Vargas já havia iniciado a Constituinte e que já havia nomeado um interventor paulista - as duas grandes exigências de São Paulo. Isso, porém, não evitou o conflito, já que o que a elite paulista realmente almejava voltar a dominar a política nacional, como o fazia anteriormente.
Porém o término da revolução constitucionalista marcou o início do processo de democratização. Em Três de maio de 1933 foram realizadas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte quando a mulher votou pela primeira vez no Brasil em eleições nacionais. Nesta eleição, graças à criação da Justiça Eleitoral, as fraudes deixaram de ser rotina nas eleições brasileiras.
Na versão do governo, a revolução de 1932 não era necessária, pois as eleições já tinham data marcada para ocorrer. Segundo os paulistas não teria havido redemocratização do Brasil, se não fosse o movimento constitucionalista de 1932.
Terminado a revolução, Getulio se reconcilia com São Paulo, e depois de várias negociações políticas, nomeia um civil e paulista para interventor: Armando de Sales Oliveira.

O movimento armado

O plano paulista previam um rápido e fulminante movimento em direção ao Rio de Janeiro pelo Vale do Paraíba, com a retaguarda assegurada pelo apoio que seria dado pelos outros estados.
Porém, sem esse apoio o plano imaginado por São Paulo não se concretizou: Rio Grande do Sul e Minas Gerais foram compelidos por Vargas a se manterem ao seu lado e a publicidade de pretensão separatista do movimento levou São Paulo a se ver sozinho, com o apoio de apenas algumas tropas mato-grossenses, contra o restante do Brasil. Comandados por Pedro de Toledo, aclamado governador revolucionário, e o general Bertoldo Klinger, as tropas paulistas se viram lutando em três grandes frentes, o Vale do Paraíba, o Sul Paulista e Leste Paulista. Como as fronteiras do Estado foram fechadas, não havia como adquirir armamento para o conflito, fora do país, assim muitos voluntários levaram suas próprias armas pessoais e engenheiros da Escola Politécnica do Estado e do IPT passaram a desenvolver armamentos a serem produzidos pelo próprio Estado para suprir as tropas.

Frentes de Combate

Vale do Paraíba
Principal acesso para o Rio de Janeiro, o vale do Rio Paraíba do Sul era visto pelos paulistas como teatro principal da guerra.
A estratégia paulista previa a conquista da cidade fluminense de Resende (que chegou a ser bombardeada por sua artilharia), e apoiado por tropas mineiras, a marcha em direção à cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, com a falta de apoio de Minas Gerais, as tropas paulistas demoraram a se mover em direção a Resende e logo se viram defendendo seu próprio território das tropas federais.
Os combates mais importantes se deram na região do Túnel da Mantiqueira que divide São Paulo de Minas Gerais e que era considerado um ponto militar estratégico de grande importância.
O terreno acidentado do vale do Paraíba e a existência de diversas cidades levaram a um combate encarniçado entre as tropas, porém a superioridade de tropas e armamentos das forças de Vargas logo levou à ocupação de diversas cidades paulistas do vale do Paraíba, como Lorena e Cruzeiro e o recuo das tropas paulistas em direção à capital.

Leste Paulista
Tropas paulistas penetraram no sul de Minas Gerais, atingindo a cidade de Pouso Alegre em julho/agosto de 1932, porém foi repelida pelas forças federais em direção de Campinas e, após setembro de 1932, cidades paulistas próximas a divisa com Minas Gerais, como Atibaia e Bragança Paulista foram ocupadas pelas tropas fiéis a Vargas.
No alto da Serra da Mantiqueira, num local conhecido com Garganta do Embaú, ocorreram combates violentos com intuito de dominar aquele ponto estratégico bem como o túnel da estrada férrea o que permitiria o controle do acesso ao sul de Minas por ferrovia. Os paulistas invadiram a cidade mineira de Passa-Quatro que foi posteriormente libertada por tropas leais ao Governo Vargas.

Mato Grosso
O grande aliado dos paulistas na Revolução foi outro palco de combates, o estado do Mato Grosso fora até dividido durante a Revolução, com o sul se emancipando como estado de Maracaju. Posteriormente a divisão aconteceu com a criação do Mato Grosso do Sul. As tropas que deveriam integrar o contingente de São Paulo nunca conseguiram chegar ao destino, ocorrendo duas batalhas principais onde foram impedidos pelos federais; em Porto Murtinho e Coxim.
A luta pelo Porto Murtinho foi o feito mais notável dos mato-grossenses no conflito, houve batalhas sangrentas pela última esperança da entrada de recursos para São Paulo, já que o Porto de Santos estava sobre bloqueio naval governista. O Porto só fora tomado pelos getulistas no dia 12 de setembro de 1932, mais de dois meses depois do início da luta.

Sul Paulista
Soldados paulistas fotografados por Claro Jansson em Itararé.Principal teatro de operações das tropas federais, era o setor mais desguardado do estado de São Paulo, pela crença do apoio que viria do Rio Grande do Sul.
Tropas do sul se posicionaram na divisa de São Paulo e Paraná, próximos a cidade de Itararé. Esta, por um grave erro logístico das tropas paulistas, não foi defendida, tendo estas se retirado para o rio Paranapanema, abrindo quase 150 quilômetros de território paulista para os federais.
Como nas demais frentes, tropas federais, em maior número e mais bem equipadas, ocupam cidades paulistas, com o agravante destas estarem situadas mais ao interior do estado do que nas outras frentes.

Rio Grande do Sul
Apesar da "traição" oficial do governo do estado, alguns gaúchos entraram na luta no próprio Rio Grande. Liderados por Borges de Medeiros um batalhão de cerca 450 homens praticavam, utilizando termos atuais, tácticas de guerrilha para fixar tropas federais, isto é, atacando destacamentos que partiriam do Rio Grande do Sul para vir reforçar os getulistas contra São Paulo, os impedindo de chegar às frontes, principalmente na frente paranaense. Os revolucionários rio-grandenses tiveram um fim na Batalha de Cerro Alegre, no município de Piratini no dia 20 de setembro de 1932. Quando foram mortos mais de duzentos homens das forças constitucionalistas e o líder Borges de Medeiros preso. Infelizmente os feitos destes bravos revolucionários estão quase esquecidos, principalmente pelo fato do não apoio oficial do governo, considerado uma grande traição pelos paulistas, criando assim uma rivalidade entre os dois Estados.

O fim do conflito
Em meados de setembro, as condições de São Paulo eram precárias. O interior do Estado era invadido paulatinamente pelas tropas de Vargas e a capital paulista era ameaçada de ocupação. A economia de São Paulo, asfixiada pelo bloqueio do porto de Santos, sobrevivia de contribuições em ouro feitas por seus cidadãos e as tropas paulistas desertavam em números cada vez maiores. Vendo que a derrota e ocupação do Estado era questão de tempo, as tropas da Força Pública Paulista são as primeiras a se render, no final de setembro. Com o colapso da defesa paulista, a liderança revoltista se rende em Dois de outubro de 1932 na cidade de Cruzeiro para as forças chefiadas por Góis Monteiro.
Terminado o conflito, a liderança paulista se refugia no exílio, enquanto os paulistas computam oficialmente 634 mortos, embora estimativas extra oficiais falem em mais de mil mortos. Do lado federal, nunca foram liberadas estimativas de mortos e feridos. Foi o maior conflito militar da história brasileira no século XX.
A derrota militar, entretanto se transforma em vitória política. Ao ver seu governo em risco, Getúlio Vargas dá início ao processo de reconstitucionalização do país, levando à promulgação em 1934 de uma nova constituição.
Para os paulistas, a Revolução de 1932 transformou-se em símbolo máximo do Estado, a exemplo da Guerra dos Farrapos para os gaúchos. Lembrada por feriado no dia 9 de julho, a revolução é mais fortemente comemorada na cidade de São Paulo do que no interior do estado, onde a destruição e mortes provocadas pela rebelião são ainda recordadas. No restante do país, o movimento, assim como a já citada Guerra dos Farrapos, é mais lembrado pela versão imposta pelos vitoriosos, a de uma rebelião conservadora, visando a reconduzir as oligarquias paulistas ao poder e de velado caráter separatista.

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