TROPEIROS

quarta-feira, 5 de março de 2008

O surgimento do tropeirismo está ligado a necessidades de uma época, pois, o Brasil se mostrava como um imenso sertão, bravio e desconhecido e com estradas que mais pareciam trilhas por entre a densa mata. Nesse período, o único meio de transporte eram os carroções puxados por bois e as tropas que carregavam produtos de primeira necessidade, como o sal, o azeite de mamona (utilizado em lampiões ou lamparinas) e produtos artesanais como o queijo, a cachaça e a lingüiça de porco.
Os tropeiros sucederam os bandeirantes no desbravamento das terras brasileiras e eram na realidade hábeis comerciantes, adquirindo produtos de uma determinada região e revendendo em outras mais distantes, servindo ao mesmo tempo como mensageiros, visto que percorriam um grande número de povoados e vilarejos.
São Paulo possuía na época uma importante estrada que ligava os centros mais importantes da província com as cidades do sul do país e tamanho era o movimento que no ano de 1733, por ali passaram cerca de cinco mil cabeças de eqüinos e muares e toda essa movimentação se deve a feira de muares da cidade de Sorocaba. Chegada à época da feira, que ocorria normalmente no mês de abril, os tropeiros vendedores se arranchavam nos arredores da cidade enquanto os donos das tropas vinham até o centro da vila, onde ficavam pelos botecos em contato com os compradores de animais, na intenção de despertar o interesse dos mesmos por sua mulada. O tempo gasto entre as negociações girava em torno de um ou dois meses e após fechado negócio, antes de partirem para suas terras de origem, era hora de adquirir os produtos artesanais, carne de porco, sal e ferramentas trazidos pelas tropas vindas de Minas.
Ser tropeiro na época era o sonho de todo menino, pois além do alto salário, a criação de eqüinos e muares estava em ascensão, já que o cavalo era de grande valia na busca do ouro e pedras preciosas, como força motriz nas carroças e carruagens e também nos engenhos de açúcar.
A tropa contava sempre com o trabalho de três homens: O madrinheiro, o tocador e o arreador. O madrinheiro era geralmente um garoto entre oito e quinze anos e sua tarefa era montar éguas mansas seguindo sempre a frente da tropa de muares. Nos pousos era ele o cozinheiro e por volta das duas ou três horas, já estava em pé esquentando o café, preparando a refeição matinal e limpando os utensílios que mais tarde seriam carregados em um jacá pela “mula culateira”. O tocador, que era conhecido como tropeiro, era o responsável pela condução do lote e da carga. Sua principal tarefa nos pousos era amarrar as bestas aos pares em estacas e descarregar as mesmas. Pela madrugada, enquanto o madrinheiro acendia o fogo, ele carregava as mulas para mais uma jornada. O arreador era o chefe da viagem e seguia sempre atrás, observando o trabalho dos outros, ele quem consertava os arreios e cuidava dos animais feridos, geralmente era o dono da carga, portanto, quem negociava e comprava os mantimentos para viagem. Além desses três homens, também havia os responsáveis pela preparação da viagem como o cangalheiro, o seleiro, o trançador, o jacazeiro, o ferreiro e o ferrador.
Ganhando a estrada, a tropa seguia com o madrinheiro à frente, sua égua possuía no pescoço um pequeno sinete, pouco atrás, com um peitoral de cincerros, vinha a besta dianteira, depois vinham as bestas de carga e por último a culateira que transportava roupas, mantimentos e utensílios de cozinha, um pouco distante desta, vinha o arreador. O tocador seguia a pé, sempre descalço e tinha nas mãos uma correia que estava sempre agitanto no ar para orientar as mulas. O pouso em geral ficava em uma fazenda e era composta de um rancho rudimentar coberto de sapé e o potreiro, uma espécie de curral e sempre localizado perto de um riacho. Nas duras lidas de um tropeiro, não havia muito tempo para o lazer, o trabalho terminava pouco depois das seis horas e depois do jantar até à hora de dormirem, os tropeiros juntavan-se ao redor da fogueira para contarem causos ou jogar cartas. Normalmente pernoitavam nos ranchos cerca de duas ou três tropas.
Os tropeiros partiam dos campos gaúchos no final do inverno, quando os pastos queimados pela geada começavam a rebrotar, viajavam lentamente e preferiam pernoitar em locais onde as pastagens eram melhores, com isso, a mulada chegava ao seu destino em boas condições e consequentemente atingiam bons preços. Normalmente no mês de fevereiro, as tropas já se encontravam na região do tijuco preto em São Paulo onde permaneciam por vários dias, já que havia água em abundância e excelentes pastagens.

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